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Informativo GEA

Desafios na sucessão soja-algodão
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INTRODUÇÃO

A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) realizou a primeira estimativa de produção para a safra de 2023/24. No seu relatório, para a soja, o principal grão cultivado no país, as estimativas são de crescimento tanto na área quanto na produtividade. A produção deve alcançar um pouco mais de 162 milhões de toneladas e,se concretizada, será um novo recorde para a cultura. Já para a cultura do algodão, a previsão indica crescimento de 2,9% na área e estimativa de produção de 3 milhões de toneladas de pluma (CONAB). 

A sucessão soja-algodão, quando comparada às demais, como a sucessão soja-milho por exemplo, é a de melhor resultado econômico, pois exibe margem líquida muito elevada no período (RICHETTI, et. al. 2019). Esse sistema é muito utilizado principalmente nas Regiões Centro (Campo Verde), Centro-norte e Norte (Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso e Sinop), Médio-norte (Campo Novo do Parecis) e Noroeste (Sapezal e Campos de Júlio), representando cerca de 87% do algodão cultivado no estado no Mato Grosso.

A sucessão da soja-algodão consiste na realização de duas safras por ano agrícola, sem o uso de irrigação. As cultivares de soja precoces são semeadas durante as primeiras chuvas do ano, no mês de setembro, e colhida em janeiro, com a semeadura simultânea do algodão “safrinha”. A produtividade de ambos acaba sendo inferior ao da semeadura em época normal, porém ainda é uma vantagem a realização de duas safras por ano agrícola, sem o uso de irrigação  (AGUIAR, et. al. 2006).

Entretanto, é importante ressaltar que para o sucesso do algodão “safrinha” deve-se fazer o uso de cultivares de ciclos precoces, para o melhor aproveitamento do período de chuvas além de garantir a produção dos frutos do “baixeiro” do algodoeiro  (AGUIAR, et. al. 2006).

Apesar de seus benefícios, a sucessão soja-algodão apresenta também alguns desafios, que por meio de manejos corretos, podem ser superados para que os benefícios do sistema e a produtividade das safras sejam alcançados.

Figura 1. Estabelecimento da cultura da soja em meio a soqueira de algodão

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Fonte: Pedro Silvestre, 2023

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JANELA DE SEMEADURA

Um dos principais desafios nessa sucessão é o tempo, já que a janela de semeadura é muito pequena quando se tem como objetivo  um alto rendimento de ambas culturas. Desse modo, a utilização de soja com o ciclo mais curto (soja precoce) é extremamente importante, para que permita o escalonamento da semeadura e garanta o sucesso das safras (FERRARI, 2021).

Além disso, em anos de eventos climáticos como o El Niño, neste ano safra 23/24, um atraso no início das chuvas no estado do MT pode mudar todo o planejamento de safra. À medida que se atrasa a semeadura da soja, a janela vai ficando cada vez pior para o algodão segunda safra, que muitas vezes pode ser substituído por milho, ou há até casos de atrasos extremos em que o produtor de algodão opta por não cultivar soja e partir para um algodão safra.

DOENÇAS E NEMATÓIDES

Outro ponto bem importante no cultivo de algodão-soja se refere aos patógenos que conseguem completar seus ciclos em ambas culturas, como por exemplo os nematóides e fungos. 

A mancha-alvo (Corynespora cassiicola), atinge tanto a cultura do algodão, quanto a cultura da soja. A doença é causada por um patógeno necrotrófico, o que significa que sobrevive em restos de cultura e sementes infectadas. Seu controle deve ser muito bem feito, na maioria dos casos utilizando cultivares resistentes e a aplicação de fungicidas (EMBRAPA, 2021).

Segundo experimentos da Embrapa realizados na safra 2020/2021 (GODOY, 2021) os fungicidas que obtém maior porcentagem de controle dessa doença são os que contém Azoxistrobina (estrobilurina), Protioconazol (triazol) e Mancozebe (ditiocarbamato).

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Figura 2. Gráfico de porcentagem de controle de fungicidas em diferentes localidades à mancha-alvo.

Fonte: GODOY, 2021

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Podemos destacar também a ocorrência de nematóides comuns a ambas as culturas e que podem ser um problema no sistema de sucessão soja-algodão. Entre eles estão: Meloidogyne incognita, Rotylenchulus reniformis e Pratylenchus brachyurus. (DIAS et. al. 2021 & GALBIERI et. al. 2016).

O  Meloidogyne incognita, também conhecido como nematoide-das-galhas, é um patógeno importante na cultura do algodoeiro pois, ocorre praticamente em todas as regiões produtoras e causa danos relevantes à produção. A doença pode ser diagnosticada facilmente pelos sintomas de galhas nas raízes e pelas folhas “carijó”, com manchas cloróticas e necrose entre as nervuras. Esse patógeno no algodão causa a inibição da absorção de água e nutrientes, que levam a sintomas semelhantes aos de deficiências nutricionais ou hídricas (GALBIERI et. al. 2016). Para o cultivo da soja, a doença causada pelo nematóide predomina em áreas cultivadas anteriormente por algodão, e é caracterizada pela presença de folhas “carijó”. A infecção por esse patógeno aumenta a taxa de abortamento de vagens e o amadurecimento prematuro das plantas (DIAS et. al.; 2021).

O Rotylenchulus reniformis ou nematóide reniforme, também é um dos principais problemas fitossanitários do algodoeiro, em campos infestados com o patógeno, as plantas apresentam menor desenvolvimento e  sistema radicular com menor volume e aspecto escurecido (GALBIERI et. al. 2016). Em lavouras de soja com solo infestado de nematóide reniforme, a plantação é caracterizada pela desuniformidade e subdesenvolvimento das plantas, muito semelhante à sintomas de deficiências de nutrientes (DIAS et. al.; 2021). 

Por fim, o nematóide das lesões radiculares, Pratylenchus brachyurus, é o de maior ocorrência em áreas de produção agrícola no país, principalmente nas áreas de cultivo de algodão, em que a presença do patógeno causa o rompimento superficial e destruição interna das raízes, deixando-as vulneráveis a infecções secundárias por fungos e bactérias (GALBIERI et. al. 2016). O nematoide reniforme na cultura da soja vem aumentando sua relevância principalmente no centro-oeste brasileiro. Seus sintomas podem ser caracterizados por reboleiras de plantas ainda verdes e com menor crescimento além do escurecimento de suas raízes (DIAS et. al.; 2021).

PLANTAS VOLUNTÁRIAS E CONTROLE QUÍMICO

Durante o processo de colheita de uma cultura, é esperado que ocorram perdas, estas, resultam na emergência posterior de plantas voluntárias dessa espécie, que passam a ser infestantes da cultura em sucessão (ADEGAS et. al.2009).

Figura 3: Plantas voluntárias de algodão em meio a cultura da soja

Fonte: Adapa, 2021

No caso da cultura do algodão, cultivado em segunda safra após a Soja Roundup Ready (RR), o manejo de plantas voluntárias de soja no estádio V1, pode ser feito a partir do controle químico, utilizando o herbicida glufosinato de amônio (para o caso de a cultivar de algodão ter a tecnologia LibertyLink) isolado ou associado ao pyrithiobac-sódico. Ambos foram capazes de reduzir o porte da soja e diminuir o potencial competitivo com o algodão (BRAZ et. al.; 2011).

Também pode acontecer o contrário, no caso de plantas de algodão que não forem bem controladas, competir com a cultura da soja na próxima safra.

Para o controle químico de plantas voluntárias de algodão tolerantes ao glifosato na cultura da soja RR, os herbicidas que tiveram a maior porcentagem de controle foram os pós-emergentes fomesafen, chlorimuron-ethyl e imazethapyr isolados; ou a dessecação pré-plantio da soja com paraquat sucedido pelo bentazon em pós-emergência; ou ainda o paraquat em dessecação sucedido pelo clomazone/ sulfentrazone em pré-emergência e em seguida o fomesafen em pós-emergência (FERREIRA, et. al. 2016).

Já para o manejo da rebrota das soqueiras do algodoeiro na soja, um estudo realizado pela Unicamp, mostra que para eliminação total das soqueiras é recomendável que seja realizado controle químico com 2,4-D seguida de glifosato e carfentrazone, a modalidade de aplicação dependerá das condições climáticas de cada região, levando em consideração a precipitação e a temperatura (MARINHO, 2016).

Alguns herbicidas podem permanecer ativos no solo por um determinado tempo e em concentrações capazes de causar fitotoxicidez à cultura sequente. Este efeito residual recebeu o nome de Carryover. (NEGRISOLI, 2021).

 

Dentre os herbicidas pré-emergentes recomendados para a cultura da soja está a sulfentrazona (CAVALIERI,2017). Este composto orgânico possui alta persistência no solo, com meia-vida estimada de 110 e 280 dias e pode se tornar um problema na cultura do algodão em parâmetros como fitointoxicação , número de capulhos por planta, massa média de capulho e produtividade de algodão em caroço.  (CAVALIERI,2017).
 

MAQUINÁRIOS 

Outro fator que torna a cadeia de produção soja-algodão complexa são os maquinários e instalações diferentes para cada cultura. O algodoeiro exige máquinas diferentes, em especial as colhedoras, a produção de soja por sua vez exige instalações para armazenamento e pós colheita diferentes. Essas diferenças no modo de produção geram um grande investimento em ambas culturas, exigindo mais uma vez altas produções para cumprir com os investimentos.

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Redigido por:

Féuπs - Lívia Akemi Tahara Amaral

Referências bibliográficas:

ADEGAS, et. al.Cuidados na Colheita Reduzem Plantas Voluntárias de Plantas Transgênicas. 2009.  

AGUIAR, et. al.Semeadura na época certa garante sucesso da “safrinha”. Visão Agrícola. 2006.

 

BRASMAX GENÉTICA. 4 estratégias para programar o sistema de cultivo soja-algodão. Blog Brasmax Genética. Disponível em: <https://www.brasmaxgenetica.com.br/blog/soja-algodao/>. Acesso em: 22 out. 2023.

 

BRAZ, et. al. Alternativas para o Controle de Soja RR Voluntária na Cultura do Algodoeiro. 2011.

 

CAVALIERE, S. D.; Carryover de Sulfentrazone na Sucessão Soja-Algodão. Embrapa Algodão. 2017

 

CLÁUDIA, Vieira; GODOY, Carlos; UTIAMADA, Maurício; et al. [s.l.: s.n., s.d.].Londrina, PR Julho, 2021‌.

 

CONAB. Primeiro Levantamento da Safra 2023/24 traz uma estimativa de produção de 317,5 milhões de toneladas. 2023.

 

DIAS, Autores et al, Nematóides em Soja: Identificação e Controle. Embrapa. Londrina. 2021.

 

DOGAN, M. N.; JABRAN, K.; UNAY, A. Integrated weed management in cotton. In: Recent advances in weed management. New York: Springer, 2014. p. 197-222.

 

EMBRAPA. Mancha Alvo e Podridão Radicular de Corinéspora. 2021.

 

FERREIRA, et. al. Controle Químico de Plantas Voluntárias de Algodão Resistente ao Gliphosate na Cultura da Soja RR. Embrapa Algodão. 2016.

 

FREITAS, R. S. et al. Manejo de plantas daninhas na cultura do algodoeiro com S-metolachlor e trifloxysulfuron-sodium em sistema de plantio convencional. Planta Daninha, v. 24, n. 2, p. 311-318, 2006.

 

GALBIERI, R. ; ASMUS, G., Principais espécies de nematoides do algodoeiro no Brasil, Embrapa Agropecuária Oeste. Dourados. 2016.

 

HPDESIGN ; ASCOM ABAPA. Manejo adequado de tigueras reduz custos e dor de cabeça para o cotonicultor - Abapa - Associação Baiana dos Produtores de Algodão. Abapa - Associação Baiana dos Produtores de Algodão. Disponível em: <https://abapa.com.br/noticias/manejo-adequado-de-tigueras-reduz-custos-e-dor-de-cabeca-para-o-cotonicultor/>. Acesso em: 22 out. 2023.

 

MARINHO, J. F.; Manejo Químico da Soqueira do Algodoeiro Tolerante ao Glifosato. Unicamp. Faculdade de Engenharia Agrícola. Campinas. 2016

 

NEGRISOLI, R. M.; Carryover: o efeito residual de herbicidas no solo. Agroadvance. 2021

 

RICHETTI, et. al. Sucessão de Culturas Uma Abordagem Econômica em Mato Grosso do Sul. Política Agrícola. 2019.

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