Informativo GEA
Cenário da agricultura irrigada brasileira
Primordialmente, ao abordar sobre o cenário da agricultura irrigada brasileira é importante citar sobre o histórico desta prática, que ocorre desde as antigas civilizações em regiões secas como Egito e Mesopotâmia visando suprir a necessidade hídrica em épocas cujo regime pluviométrico não era satisfatório. Já no Brasil, segundo a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), esta prática chegou um pouco mais tarde, entre o final do século XIX e o início do século XX nas lavouras de arroz do Rio Grande do Sul, região que até o ano 1960 representava 57,2% da área irrigada nacional totalizando 462 mil hectares. Estados como São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina vinham desenvolvendo também (ANA, 2021).
A partir da década de 70 e 80 a irrigação no Brasil passou a se desenvolver de forma mais abrupta, principalmente para regiões com condições físico-climáticas menos favoráveis, com regimes pluviométricos mais sazonais, como São Paulo, Tocantins, Minas Gerais, Bahia e Goiás conforme elucidado na figura abaixo, que demonstra a evolução das áreas irrigadas do Brasil e a representatividade das regiões desde 1960 até 2017 (ANA, 2021).
Figura 1: Evolução da área irrigada no Brasil e participação das regiões.
Fonte: Censos Agropecuários (IBGE, 1960-2017)
É importante também comentar a respeito do crescimento das áreas irrigadas nos últimos anos, já que entre 2000 e 2011 a média de crescimento era de 130 mil ha por ano e de 2012 a 2019 teve um aumento de 66% chegando ao crescimento de 216 mil ha por ano, fazendo com que o Brasil chegasse a uma área de 8,2 milhões de hectares irrigados em 2019. A partir disso, podemos perceber que na maioria das situações, os investimentos em irrigação tem sido atrativos aos produtores rurais, uma vez que permitem a produção de alimentos com maior qualidade, cultivar em épocas de baixa oferta hídrica, entregar produtos em épocas de baixa disponibilidade no mercado e, caso manejado de forma correta, pode permitir aumentos de produtividade, dessa forma, agregando valor ao negócio dos agricultores.(ANA, 2021).
Além disso, é importante citar a respeito dos diferentes métodos de irrigação, os quais podem ser divididos em 4, o método por aspersão, que consiste em um jato de água lançado sobre pressão no ar atmosférico, por meio de orifícios ou bocais de aspersores; o segundo método é conhecido por irrigação localizada, que consiste na aplicação de água por emissores que operam sob pressões e disponibilizam o volume de água necessário nas áreas de interesse; já o terceiro método consiste na irrigação por superfície e é realizado através da superfície do solo, conduzindo a água até a área desejada; e por fim, a irrigação subterrânea tem por fundamento a aplicação via subsolo pela formação de um lençol freático de água artificial ou pelo controle de um natural, mantendo-o a uma profundidade conveniente, capaz de proporcionar um fluxo satisfatório de água à zona radicular da cultura.
A respeito destes métodos, no Brasil, tem-se o predomínio de 3 métodos a depender de sua finalidade. O método superficial é utilizado visando a inundação para a cultura do arroz; o método localizado é utilizado principalmente em horticultura, fruticultura e no cultivo de café e o método por aspersão com o sistema de pivô central é utilizado principalmente para culturas anuais, enquanto os aspersores por outros sistemas para a cana de açúcar e algumas outras culturas. A figura abaixo ilustra o crescimento dos diferentes métodos no Brasil (ANA, 2021).
Figura 2: Área irrigada mecanizada e seu incremento anual no Brasil
Fonte: Câmara Setorial de Equipamentos de Irrigação - CSEI/Abimaq (ABID, 2020)
A figura abaixo ilustra o método predominante de irrigação em cada região do país, permitindo relacionar com a principal cultura localizada naquela região.
Figura 3: Mapa brasileiro com o método predominante de irrigação em cada região.
Fonte: ANA, 2020
Por meio das figuras é possível notar a importância dos pivôs para a irrigação nacional, que ao lado do método de irrigação localizada representaram 70% do incremento de área irrigada entre 2006 e 2019 no Brasil (ABID, 2020). Para se entender a respeito da importância dos pivôs, a figura abaixo ilustra o crescimento das áreas somente de pivôs no Brasil entre 1985 e 2019 que chegou a ter um total de 1.556.205 hectares no Brasil.
Figura 4: Área equipada para irrigação por pivôs centrais e seu crescimento desde 1985 até 2019.
Fonte: ANA, 2020
Ao tratar de irrigação no Brasil, outro importante fator a ser considerado é a sustentabilidade, principalmente no que diz respeito ao uso da água, uma vez que do total do uso de água no país 49,8% é destinado somente à irrigação (ANA, 2020). E os outros usos são elucidados na figura abaixo.
Figura 5: Captação de água total no Brasil e a demanda por setor.
Fonte: adaptado de Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil (ANA, 2020)
Através da figura acima é possível entender a respeito da quantidade de água que a irrigação consome no Brasil e da importância do uso racional desse recurso limitado. Quanto a isso, um fator muito importante é a escolha correta do método e sistema de irrigação a ser empregado na propriedade, pois, os diferentes sistemas apresentam diferentes eficiências do uso de água. A figura abaixo ilustra a eficiência dos diferentes sistemas de irrigação.
Figura 6: Eficiência e nível de perdas a depender do sistema utilizado de irrigação.
Fonte: adaptado de ANA (2013)
Ao comparar o cenário da irrigação mundial com o Brasil, segundo a FAO (2020) o Brasil está entre os 10 países com maior área irrigada no mundo, sendo os líderes mundiais a China e a Índia, com cerca de 70 milhões de hectares cada, em terceiro lugar os EUA com 26,7 milhões de hectares, o Paquistão com 20 milhões e o Irã com 8,7 milhões e, ocupando a 6° posição, encontra-se o Brasil com cerca de 8,2 milhões de hectares irrigados e com um potencial de expansão para muito mais.
Figura 7: Mapa global de área irrigada e sua concentração dentro dos países.
Fonte: FAO (2013)
Redigido por:
Gomózi - Luiz Fernando Carminati
Referências bibliográficas:
ANA. Agência Nacional de Águas. Atlas irrigação: uso da água na agricultura irrigada. Brasília: 2017. 86p.
ANA. Agência Nacional de Águas. Atlas irrigação: uso da água na agricultura irrigada 2ª edição. Brasília: 2021.
ANA. Agência Nacional de Águas. Manual de usos consuntivos da água no Brasil. Brasília: 2019.
ANA; EMBRAPA. Levantamento da agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil (1985-2017). Brasília. 2019.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM. Contribuição da CSEI-Abimaq com estimativas sobre a área irrigada no Brasil. 2020.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA ALIMENTAÇÃO E AGRICULTURA. Global map of irrigation areas version 5. Roma (Itália), 2013.
TESTEZLAF, Roberto. Irrigação: métodos, sistemas e aplicações. Campinas: FEAGRI, 2017.
Dessa forma, é possível notar a importância da irrigação para a agricultura nacional e o quanto o Brasil é representativo (o 6° maior em área irrigada no mundo) a nível mundial neste aspecto. No entanto, sabendo da extensão territorial presente no Brasil e a sua vasta disponibilidade hídrica, ainda há potencial para expandir 13,69 milhões de hectares, ou seja, mais do que dobrar a atual área irrigada nacional. No entanto, o processo de expansão não é repentino e as projeções relatam que até 2040 tenha um crescimento de 4,2 milhões de hectares.