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Informativo GEA

Estresse hídrico e qualidade da fibra de algodão
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O algodão é uma cultura de elevada importância econômica e social para o Brasil, sendo sua fibra uma commodity, além de representar renda e emprego em diversas regiões e setores produtivos. Atualmente o Brasil é quarto maior produtor de algodão do mundo, atrás da Índia, China e Estados Unidos da América, de modo que os estados do Mato Grosso (MT) e Bahia (BA) são os mais relevantes (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018)

Em se tratando das espécies de algodoeiro e sua história, cabe ressaltar que a maioria tem origem de regiões de clima tropical e subtropical de baixa latitude, o que implica em ambientes mais áridos (ECHER, 2014). Desse modo, a planta do algodão apresenta em suas fases iniciais um crescimento radicular maior do que o de parte aérea, como uma maneira de se adaptar evolutivamente na busca por água (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018)

Figura1 - Crescimento inicial do sistema radicular do algodoeiro

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Fonte:  Adaptado Oosterhuis citado por Robertson (2007).

Sendo assim, a água apresenta efeitos diretos no crescimento e desenvolvimento do algodoeiro, sendo um deles a manutenção de temperatura do dossel, de modo que no mínimo 95% de toda água absorvida é usada para resfriar a planta. Isso acontece pois em temperaturas ótimas entre 23,5º C e 30º C promovem maior atividade enzimática na folha, agindo em reações importantes como a fotossíntese (ECHER, 2014)

Além disso, a água é importante para criar pressão de turgescência, fornecendo energia para expandir as células a também rigidez nas estruturas da planta. Sua função como solvente também é importante pois auxilia os transportes, tanto de nutrientes no solo que são absorvidos como de metabólitos dentro da planta. Também é importante como um substrato para reação da fotossíntese, processo bioquímico de extrema importância (ECHER, 2014)

Já em relação a fibra, sua qualidade é muito importante devido à algumas classificações realizadas que irão ditar o seu destino e preço de venda. A fibra do algodoeiro é constituída por 90% de celulose, de modo que qualquer acontecimento que pode interferir na síntese e disponibilidade de carboidratos seja determinante. características importantes como o comprimento de fibra tem sua fase crítica no período entre 25 e 40% da formação do fruto. Já para características de resistência e micronaire (leva em conta componentes como diâmetro da fibra e resistência a um fluxo de ar), essa fase é compreendida entre 25 e 75% da formação do fruto (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018).

Figura2 - Estruturas reprodutivas do algodoeiro

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Fonte: Saul Carvalho (2018)

O estresse hídrico durante a produção de botões florais é muito prejudicial, já que a planta necessita nesta fase de construir um bom dossel capaz de sustentar as estruturas reprodutivas que irão se formar e se tornar fortes drenos de fotoassimilados. No período após a emissão da flor e antes do primeiro capulho, atividade metabólica é extremamente elevada e a necessidade de água também, participando da partição de biomassa para estruturas reprodutivas e vegetativas (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018)

Ainda durante esse período, quando a demanda de foto-assimilados supera a capacidade de fornecimento pelo dossel, acontece um fenômeno denominado cut-out, que é a paralisação de crescimento vegetativo e também maçãs, flores e botões mais jovens são abortadas. O estresse hídrico antes dessa fase poderá diminuir a capacidade fotossintética e assim, fazer com que esse marco seja atingido precocemente. Se o estresse acontecer quando a planta já está nessa fase, ocasionará um abortamento ainda mais expressivo (ECHER, 2014)

Figura3 - Consumo de água conforme as fases do algodoeiro

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Fonte: Adaptado por Landivar, J. (2005)

Já no que corresponde do cut-out à maturação, no caso de estresse hídrico, a planta do algodoeiro responde com abortamento de frutos menores, de modo a favorecer as fibras e sementes de estruturas mais velhas, como uma estratégia de sobrevivência. Caso o estresse persista e não haja mais frutos pequenos para serem abortados, o resultado serão capulhos menos desenvolvidos, com tamanho reduzido. Também as fibras serão menos espessas, sendo tratadas como imaturas, o que compromete muito a produtividade e a qualidade da fibra do algodão (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018)

Além do estresse hídrico, a temperatura é outro fator importante que deve ser levado em conta no caso de estresse e que pode acarretar em perdas quantitativas e qualitativas. Mesmo o algodão tendo origem em locais de clima árido, ele não expressa seu máximo potencial produtivo em temperaturas superiores a 32º C,  temperatura em que há inibição no desenvolvimento do pólen e da fertilização. Assim,  há limitação na produção de sementes, ocasionando perdas na formação de fibras (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018).

Também temperaturas baixas podem resultar em perdas da qualidade da fibra do algodão. Mesmo sendo a temperatura basal do algodão considerada de 15º, temperaturas médias até um pouco acima disso podem causar perdas, não tão quantitativas, mas principalmente qualitativas. Segundo Kelly et al. (2008), temperaturas médias inferiores a 22º C, podem diminuir o índice de micronaire, importante para classificação de qualidade da fibra. Isso acontece pois em temperaturas menos quentes, a deposição de celulose, que é o principal componente da fibra, não é tão favorecida (JÚNIOR; SANTOS; LOPES; BARBOSA, 2018).

Portanto, os diversos estresses que podem ocasionar em perdas na qualidade da fibra do algodão são muito importantes. Sendo o Brasil um grande produtor mundial dessa commodity, vale ressaltar que é importante o entendimento de todos esses processos que afetam a ecofisiologia do algodão é uma importante ferramenta para diminuir as possibilidades de perdas quantitativas e qualitativas na cultura do algodão.

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Redigido por:

C-quéla - Otávio Ferreira

Referências bibliográficas:

 

Instituto Mato-Grossense do Algodão - IMAmt. O algodoeiro e os estresses abióticos: temperatura, luz, água e nutrientes / editor técnico: Fábio Rafael Echer - Cuiabá (MT), 2014. Disponível em: http://sites.unoeste.br/gea/wp-content/uploads/2018/11/2014-O-algodoeiro-e-os-estresses-abi%C3%B3ticos-Temperatura-luz-%C3%A1gua-e-nutrientes.pdf. Acesso em: 02 de jun. de 2022.

 

SANTOS JÚNIOR, Antônio dos; SANTOS, Izabela Thais dos; LOPES, Rita de Paula; BARBOSA, Edimilson Alves. ECOFISIOLOGIA DO ALGODOEIRO. Belo Horizonte: Uemg, 2018. Disponível em: https://editora.uemg.br/images/livros-pdf/catalogo-2018/Ecofisiologia/2018_Ecofisiologia_cap3.pdf. Acesso em: 02 jun. 2022.

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