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Informativo GEA

Uso de maturadores na Cana-de-Açúcar (Saccharum spp)
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           Segundo o Boletim da Safra de cana-de-açúcar emitido pela CONAB em agosto de 2023, espera-se um aumento de 6,9% na produção em relação à safra 2022/23, resultando em 652,9 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O Brasil deverá destinar 8.288,3 mil hectares para a colheita, com produtividade média de 78.779 kg/ha. Quanto a seus subprodutos, o etanol hidratado apresenta aumento de 5,7% e o anidro deverá ter de 2,9%, somando uma produção total de 27,72 bilhões de litros do biocombustível. Já a produção de açúcar na safra 2022/23 foi de 36,8 milhões de toneladas e estima-se que a da safra 2023/24 seja de 40,9 milhões de toneladas, mostrando um acréscimo de 11,1%.

Gráfico 1: Produção de cana-de-açúcar em milhões de toneladas

Fonte: CONAB, 2023

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            A atual safra é a segunda maior produção de açúcar da sequência histórica da CONAB. Neste cenário, diversos aspectos acarretaram nessa maior oferta de açúcar no mercado devido aos preços mais atrativos ao produtor. O melhor índice de chuvas e bem distriuídas possibilitou maiores produtividades nos canaviais, de modo a possibilitar uma melhor safra. Neste viés, quanto a planta, o acúmulo de açúcar se dá nos entrenós da cana-de-açúcar, necessitando de condições climáticas específicas, temperaturas de 10ºC-20ºC e déficit hídrico, que restrinjam seu crescimento, de maneira a forçá-lo a parar e induzir sua maturação. Esse processo é conhecido como amadurecimento (GOMIDE et al, 2008).

            A maturação da cana-de-açúcar consiste na redução do desenvolvimento vegetativo de forma a não afetar o processo fotossintético, promovendo maior acúmulo de produtos fotossintetizantes que serão, posteriormente, convertidos a açúcares para armazenamento nos tecidos da planta (VIANA, 2007). Pode-se, ainda, definir o amadurecimento sob os aspectos botânico, fisiológico e econômico. Segundo o botânico, a cana é considerada madura após a emissão das flores e da formação de sementes, enquanto o fisiológico define como quando o colmo atinge seu armazenamento máximo de sacarose. Por fim, o econômico determina como sendo o momento em que a cana atinge seu teor mínimo de sacarose, de 13% do peso do colmo, necessário para que possa ser viável industrialmente (EMBRAPA, 2022).

            Sendo assim, dada à constante busca por alta produtividade dentro do setor sucroalcooleiro, tem-se aderido a antecipação da safra por meio da utilização maturadores na cultura da cana-de-açúcar, a fim de aumentar a disponibilidade de matéria-prima de boa qualidade para a indústria e facilitar o manejo das variedades. A maturação está diretamente ligada ao momento de industrialização, sendo um dos aspectos mais importantes da cultura (GHELLER, 2001). Os maturadores são produtos químicos que geralmente paralisam o crescimento e  modificam  a  partição  dos  fotoassimilados  (acúmulo  de  sacarose  na  parte  aérea  das  cultivares), deslocando-os mais para o acúmulo de sacarose nos colmos (GILSON, 2020).

            Podem ser classificados em estressantes, não-estressantes e retardadores e inibidores do crescimento, e sua aplicação pode ser realizada por via terrestre e aérea. Os estressantes inibem ou diminuem o ritmo de crescimento da planta, provocando o acúmulo de sacarose ao invés de utilizá-la como fonte de energia para promover o alongamento do colmo (EMBRAPA, 2022). Os maturadores não-estressantes, estes não afetam a taxa de crescimento da planta, atuando na liberação do hormônio etileno, o qual é diretamente responsável pela maturação, contribuindo para o acúmulo de sacarose nos colmos da cana.

 

            Tratando-se dos retardadores do crescimento (compostos não estressantes) o composto etefon, Ethrel, maturação/inibição do florescimento, é o principal utilizado atualmente. Comumente é realizada uma aplicação única de dose 2L/ha através da pulverização aérea antes da indução floral, a fim de evitar a diminuição das quantidades totais de açúcares industrializáveis e da produtividade agrícola em decorrência da floração. Ademais, pode ser utilizado no período de pré colheita afim de aumentar o teor de sacarose no colmo e aumentar a rentabilidade.

            Outro exemplo de retardador de crescimento é o Moddus, trinexapaque-etílico. Esse possui dosagem recomendada de 0,8 a 1,2 L/ha entre 15 e 60 dias antes da colheita. Atua reduzindo o nível de giberelina ativa, diminuindo a ação de estimuladores de crescimento sem afetar a fotossíntese e integridade da gema apical (HIDA, 2009). Também aumenta o teor de sacarose e inibe o florescimento.

 

            Quanto aos inibidores do crescimento, o glifosato é o principal representante deste grupo. Segundo Vezzani, (2010), o glifosato é um herbicida que possui translocação rápida por toda a planta. Ao ser utilizado como maturador, promove efeitos primários e secundários na planta. Como efeito primário ele inibe ou retarda o desenvolvimento da cana-de-açúcar, acelerando o processo de maturação.  A  inibição  pode  ocorrer pela  morte  da  gema  apical,  dependendo  da  dose  utilizada. Em doses menores ocorre o retardamento do desenvolvimento da cana em função da inibição da síntese do   ácido   indol-3-acético,   que   é   sintetizada   nos   tecidos   meristemáticos,   e   dos   aminoácidos responsáveis pela síntese das proteínas. Com essas alterações, as plantas entram em estresse passando a sintetizar o etileno, e consequentemente entram em processo de maturação aumentando o conteúdo de sacarose no colmo de cana. De acordo com a Revista Canavieiros (2014), o glifosato ao ser usado como  fonte  de  maturação,  provoca  morte  das  gemas,  amarelecimento  das  folhas  e  dependendo  da dose, morte da planta entre 7 a 14 dias. Ao inibir o crescimento vegetativo ele estimula o acúmulo de sacarose. A colheita deve ser realizada até 4 -5 semanas após aplicação. Caso não ocorra a colheita nesse período, irá existir intensa brotação lateral, prejudicial à qualidade da matéria-prima. O  glifosato  é  comumente  utilizado  em  misturas  com  outros  maturadores.  São  necessários cuidados especiais nas aplicações para não sobrepor dosagens, sendo ideal para áreas de reforma. É um produto que apresenta baixo custo em contraposição ao maior risco de utilização.

            Por fim, os inibidores do crescimento (não estressantes) temos o clethodim, Centurion, possui recomendação de 24-36 g i.a/ha entre 40 a 60 dias antes da colheita. Uma vez no interior celular, o clethodim inibe a biossíntese da enzima acetil coenzima-A carboxilase (ACCase), impedindo a formação do malonil-CoA e consequentemente impedirá a formação de lipídeos (López-Ovejero et al. 2006). Com a interrupção da formação de lipídios, não haverá a formação de membranas celulares e outras organelas celulares, de modo a cessar o crescimento da planta, ocorrendo, assim, um maior acúmulo de sacarose em seu colmo.

            Com relação ao sulfometuron metil, Curavial, apesar de não apresentar resultados tão eficazes quanto os demais maturadores, possui o melhor custo benefício. Atua nas regiões meristemáticas, afetando tanto seu desenvolvimento quanto a divisão celular. Sua mistura com o glifosato é uma boa alternativa. Utiliza-se a dose 18 a 26 g/ha entre 40 e 60 dias antes do corte da cana-de-açúcar, desde que esteja em seu desenvolvimento vegetativo ideal.

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Figura 1: Relação entre os grupos de maturadores, ingredientes ativos e mecanismos de ação

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Fonte: REIS,2023.

         A determinação do estágio de maturação se dá através da utilização do refratômetro de campo, aparelho cuja função é fornecer a porcentagem de sólidos solúveis do caldo, nomeado como brix, ligada ao teor de sacarose presente na cana-de-açúcar. Assim, após a medição, é realizada uma análise laboratorial. Posto que sua maturação se dá a partir da base do colmo ao seu ápice, a planta imatura apresenta grande diferença entre os teores de sacarose dos extremos do colmo. Portanto, é utilizado o índice de maturação (IM) como critério para estimar a maturação, fornecendo a relação entre os teores de acordo com a seguinte fórmula.

Figura 2: Fórmula para cálculo do índice de maturação.

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Fonte: Adaptado de Embrapa (2022)

        Para a cana-de-açúcar são admitidos os seguintes valores de IM:Para a cana-de-açúcar são admitidos os seguintes valores de IM:

Tabela 1: Estágios de maturação da cana e o índice de maturação (IM).

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Fonte: Adaptado de Gismonti (2011).

          Diante disso podemos compreender que o uso de maturadores químicos é extremamente viável na cultura da cana-de-açúcar. O uso destes compostos propicia um maior acúmulo de fotoassimilidos no colmo, principal interesse dos produtores de cana. Sendo classificados em maturados estressantes, não estressantes, retadadores e inibidores do crescimento, seu uso requer um conhecimento técnico maior para um melhor posicionamento, a fim de alcançar elevadas produtividades e reduzir perdas devido ao florescimento na cultura. mencionar, que as epocas de aplicação e doses podem variar de acordo com a região e os manejos adotados pelos produtores, mas com os mesmo objetivos em comum.  

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Redigido por:

Çomeliê 

Brióza 

Referências bibliográficas:

CASTRO, P. R. C. Fisiologia da cana-de-açúcar. In: MENDONÇA, A. F; Cigarrinha da canade – açúcar. Maceio: Insuta, 2005. cap. 1, p. 3-48.                                              

CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar, Brasília, DF, v. 11, n. 2, agosto de 2023.

CAPUTO, M. M. et al. O USO DE MATURADORES QUÍMICOS NA CANA-DE-AÇÚCAR. Pesquisa & Tecnologia, vol. 2, n.2, Jul-Dez 2005.

DE SIQUEIRA, G. F.. MATURADORES EM CANA DE AÇÚCAR: efeitos de misturas de produtos. Seminário STAB-Fenasucro Agroindustrial. 2014.

GHELLER, A. C. A. Resultados da aplicação de maturadores vegetais em cana-de-açúcar,

variedades RB72454 e RB835486 na região de Araras, SP. In: JORNADA CIENTÍFICA DA

UFSCAR, 4, 2001, São Carlos. Resumos... 2001.

 

GOMIDE.A. L. O; LAVANHOLI. M. G. D. P; VELOSO, L.A. Uso dos maturadores químicos da cultura cana-de-açúcar (Saccharum spp). Nucleus. Ituverava: FEItuverava, 2008. p. 19- 27. Edição Especial. Disponível em: http://www.nucleus.feituverava.com.br/index.php/nucleus/article/view/82/135.

 

HIDA, J. N. T. et al. EFEITO DOS MATURADORES QUÍMICOS NA CULTURA DA CANADE-AÇÚCAR (Saccharum spp). Nucleus, v.6, n.2, out. 2009.

 

LÓPEZ-OVEJERO, R. F., et al. (2006). Alternativas de manejo químico da planta daninha Digitaria ciliares resistente aos herbicidas inibidores da ACCase na cultura de soja. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 24, n. 2, p. 407-414.

 

ROSSETTO, Raffaella. Maturação. Embrapa, 2022. Disponível em: https://www.embrapa.br/agencia-de-informacao-tecnologica/cultivos/cana/producao/planejamento-da-colheita/colheita/maturacao. Acesso em: 28 ago. 2023.

 

VEZZANI, Rodrigo. QUALIDADE TECNOLÓGICA E TEORES DE NUTRIENTES DA CANA-DE-AÇÚCAR SOB EFEITO DE MATURADORES. 2010. 1 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Agronomia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Jaboticabal, 2010.

VIANA, R. S. Aplicação de maturadores químicos no final de safra, associada à eliminação de soqueira em área de reforma do canavial. 2007. 46 f. Dissertação (Trabalho de Mestrado em Agronomia) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.

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