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Informativo GEA

Podas e condução do cafeeiro
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As podas são práticas capazes de tornar possível o cultivo adensado do cafeeiro, visto que nesse contexto surge a necessidade de restabelecer as condições originais da planta, considerando uma situação de fechamento do dossel. Ao passo que no cultivo em aberto a poda não é uma prática comum, unicamente em situações atípicas, nas quais ocorrem erros na formação e/ou condução da lavoura. Também, as podas podem ser utilizadas para manipular o fluxo e acúmulo de açúcares nas fontes e drenos do cafeeiro, sendo estes drenos em ordem crescente: metabolismo  da manutenção celular, desenvolvimento de raízes, desenvolvimento de novos brotos, engrossamento de ramos, flores e frutos (Rena, et al. 1985)

Em geral, os ramos produtivos do cafeeiro têm um limite de crescimento e, ao passo que deixam de frutificar, continuam crescendo em massa e em espessura, o que faz com que compitam com outros drenos pelos fotoassimilados. Portanto, em prol de retomar o potencial produtivo da planta se fazem necessárias podas eventuais, visto que um cafeeiro velho produz cada vez menos ramos jovens, ou seja, torna-se cada vez mais improdutivo.

 

Desenvolvimento vegetativo

 

O café é uma planta de tipo arbustivo dimórfica o qual é capaz de emitir dois tipos diferenciados de ramos a partir do tronco principal e que possuem funções diferentes, sendo esses os ortotrópicos e os plagiotrópicos.

Os ramos plagiotrópicos constituem a maioria da composição dos ramos da planta. Estes crescem perpendicularmente ao ramo principal e são oriundos das gemas “cabeças de série”. Estas gemas são únicas, portanto, caso o ramo plagiotrópico venha a morte, por exemplo, por erros de manejo, a planta não é capaz de regenerar sozinha um outro ramo naquele mesmo local, sendo necessária a realização de uma poda. Os plagiotrópicos são os responsáveis diretos pela produção do cafeeiro, nos quais serão formados os botões florais e, posteriormente, os frutos.

Por outro lado, os ramos ortotrópicos crescem verticalmente, ou seja, estão paralelos ao tronco principal e são formadores dos ramos plagiotrópicos. Em caso de algum trauma sofrido pelo tronco principal, os ramos ortotrópicos são responsáveis pela recuperação da planta. Estes são originados das “gemas seriadas”, que diferente das gemas “cabeças de série”, são capazes de dar origem a novos ramos ortotrópicos.

Eventualmente os ramos ortotrópicos que surgem passam a competir com os ramos plagiotrópicos pelos recursos naturais (água, luz e nutrientes) e podem prejudicar a produtividade do cafeeiro. Consequentemente, estes são chamados de ramos ladrões e devem ser eliminados caso estejam presentes em excesso, por um tipo específico de poda conhecida como desbrota.

Figura 1: Imagem ilustrativa dimorfismo

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Fonte: Café Point

As gemas seriadas, as quais originam os ramos ortotrópicos, são ativadas pela luz solar e permanecem dormentes quando sombreadas. Portanto, o fato da planta emitir uma grande quantidade de “ramos ladrões” pode ser um indicativo de que o cafeeiro não está sendo bem conduzido, visto que a copa não está bem formada ou com boa disposição de folhas.

Em contrapartida, após a realização de uma poda mais drástica, a emissão de ramos ortotrópicos é necessária para a recuperação da planta, pois esses ramos serão responsáveis pelo preenchimento do corpo produtivo. Dessa forma, antes de se realizar a retirada desses ramos, deve-se analisar qual função estão desempenhando no cafeeiro.

 

Condução da lavoura

 

A partir da década de 80, o espaçamento entre as plantas (renque) nas lavouras de café diminuiu consideravelmente, após estudos comprovarem que uma maior população estava diretamente relacionada com maiores produtividades. No entanto, para que este adensamento obtivesse resultados de sucesso, diversas práticas passaram a ser adotadas, dentre elas o acréscimo nas adubações e fertilidade do solo, avanço no manejo de doenças como a Ferrugem do Café (Hemileia vastatrix) e a Phoma (Phoma tarda), e de pragas como a Broca do café (Hypothenemus hampei) (favorecidas por micro climas mais úmidos), e adoção de podas programadas - podendo inclusive ser adotado sistema “Safra 100” e “Safra Zero”.

Existem diversas modalidades de poda que podem ser realizadas no cafeeiro, e cada uma pode ter um, ou mais, objetivos. Dentre os objetivos das podas, podemos citar:

 

  • Reduzir o fechamento, acrescendo na penetração de luz e recuperação de ramos plagiotrópicos do baixeiro;

  • Aumentar a área (número e comprimento) dos ramos produtivos;

  • Remover estruturas primárias (haste e copa);

  • Reduzir altura das plantas (decote e recepa);

  • Equilibrar parte aérea com radicular (diminuição de estresses hídricos);

  • Manejar pragas e doenças (exemplo pragas de solo em caso de recepa);

  • Acelerar recuperação da lavoura pós geada, granizo, faísca elétrica, etc;

  • Combinar cultivos nas entrelinhas (prática não muito usual em propriedades de elevado grau de tecnificação);

  • Programar produção, facilitar planejamento de custos;

  • Ciclar Matéria Orgânica, e produção de lenha (recepa);

  • Colher com corte simultâneo (usual em Conillon)

  • Induzir uma maior uniformidade de floração e maturação;

  • Facilitar correção física e química do solo;

  • Aumentar eficiência de replantio/repovoamento da lavoura.

 

A decisão do sistema de podas a ser adotado, a época e os desafios advindos de cada tipo de condução são de grande complexidade, e exigem certa experiência para que sejam tomadas as decisões corretas. Dentre os fatores que devem ser levados em consideração, temos: fechamento, desgaste das plantas, cinturamento, “embatumamento”, altura do cafeeiro e excesso de hastes. Os efeitos trazidos por essa podas também são de suma importância, sendo os principais a reposição de nutrientes pelas ramagens, a morte de parte considerável das raízes, aumento das brotações e crescimento de ramos, perda de produção a curto prazo, deficiências nutricionais (sobretudo de micronutrientes, que são mais exigidos nos tecidos meristemáticos), efeitos sobre a matocompetição, incidência de pragas e doenças.

 

Em relação a forma de uso das podas na lavoura, temos três sistemas:

 

  • Contínuo, no qual todas as plantas do talhão são acometidas, fazendo com que a produção seja reduzida drasticamente, chegando a zero em caso de recepa.

  • Parcial/intercalado, em que ocorre o corte de algumas linhas, e de outras não. Nesse sistema tem-se a vantagem de manter uma parte da produção, além da proteção física, contra o vento, das plantas podadas (sobretudo em caso de recepa). No entanto, nessa modalidade torna-se difícil realizar os tratos diferenciados de adubação e controle de mato nas diferentes linhas, além de promover a permanência de doenças e pragas.

  • Por apreciação, em que se faz um exame individual de cada uma das plantas, e a poda é feita conforme a necessidade, levando a maiores patamares produtivos, porém só sendo viável em pequenas propriedades.

 

Dentre os principais tipos de poda, temos as mais drásticas, que promovem a eliminação da maior parte da ramagem da planta (recepa e esqueletamento), e aquelas ditas mais leves, em que menores porções da planta são removidas (decote, podas de limpeza e poda de produção para o Conillon). As principais características de cada uma delas serão apontadas a seguir:

 

Recepa

Das podas, esta é a mais agressiva. Recomendada para plantas com excessiva perda de ramos plagiotrópicos (devido a um alto grau de fechamento), para lavouras após um longo período sem tratos adequados, ou severamente atingidas por geadas e outros eventos climáticos (chuva de granizo, por exemplo). Pode ocorrer de 0,2 a 0,4 metros de altura (recepa baixa, podendo ser feita a 0,1m no Conillon), ou de 40 a 80 cm (recepa alta), com ou sem a manutenção de “pulmões” (mantém a produção de energia e aceleram a recuperação). Essa prática pode ser feita em linhas intercaladas, e se dá em quatro etapas - desgalhamento lateral, corte do tronco (preferencialmente em bizel), retirada/trituração da lenha (uso da trincha) e desbrota. A última das quatro etapas, desbrota, deve ser feita quando os ramos atingem 15-20 cm, priorizando a manutenção do ramo mais próximo ao solo. A quantidade de brotos, futuras hastes, conduzidas dependerá do espaçamento utilizado (para o café arábica deve-se almejar 5 a 7 mil hastes por hectare). Vale ressaltar que quanto maior o número de brotos deixados maior a produtividade no curto prazo, no entanto, o excesso de hastes faz com que esses ramos ortotrópicos fiquem demasiadamente finos, podendo causar o tombamento no futuro. Dentre as vantagens da recepa podemos citar a renovação total das plantas, abertura para correções no solo, possibilidade de cultivos intercalares e facilidade no repovoamento (inserção de novas mudas no local onde existiam falhas). Porém, a redução total de produção, o alto custo operacional, a exigência por tratos diferenciados, e o maior crescimento de plantas daninhas são efeitos negativos advindos dessa prática. Por fim, é válido dizer que  a recepa em lavouras velhas, ou em mau estado nutricional, pode causar a morte das plantas em grande quantidade.

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Figura 2 -  Recepa baixa

Fonte: Hub do café

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Decote

Neste tipo de poda ocorre a eliminação da parte superior do cafeeiro. Indicado para lavouras em via de fechamento e para reduzir altura das plantas  ao patamar ideal das práticas de manejo. O decote baixo é feito entre 1,2-1,8 metros quando a planta precisa recompor sua parte superior. Já o decote alto é realizado em plantas com copa em bom estado entre 2,0-2,5 metros, com o intuito de reduzir seu comprimento (favorecendo microclima mais arejado, ensolarado para a parte inferior). É importante frisar que quanto mais drástica a poda, menor a produtividade no ano em sequência, no entanto seus efeitos terão maior durabilidade. Além das classificações de acordo com a altura, o decote pode ser lenhoso (corta a parte lenhosa da planta) ou herbáceo (feito em plantas jovens de 3-5 anos para estimular crescimento compensatório da ramagem lateral). Após essa prática é necessário conduzir a desbrota dos ramos ortotrópicos. Essa condução pode ser feita de forma livre (recomendada para decotes altos, apresenta melhores patamares produtivos) ou mantendo de 1-3 hastes para reforma total da copa. De acordo com Matiello, et al. (2015) a desbrota total em decote baixo (plantas mantidas “capadas”) reduz muito a produtividade da lavoura, não sendo recomendada. O decote é uma prática positiva pois não causa perdas significativas, é mais simples, menos onerosa, facilita os outros tratos culturais por reduzir a altura, aumenta o diâmetro do caule (evitando tombamentos), e reequilibra a parte aérea/radicular. Entretanto, sua durabilidade não é tão grande, sendo feita anualmente em lavouras comerciais.

Figura 3 -  Decote lenhoso

Fonte: Rehagro

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Esqueletamento e desponte

Poda aplicada nos ramos laterais, à uma distância de 20-30 cm (esqueletamento) e 30-60 cm (desponte) do tronco, com intuito de recuperar a ramagem plagiotrópica da planta (geralmente adota-se o formato cònico, em que os ramos plagiotrópicos superiores são deixados mais curtos do que os do terço inferior da planta). Essa prática deve ser aplicada em lavouras com bom estado nutricional, pois quando feita em lavouras “mal tratadas” pode não trazer bons resultados. Geralmente esse manejo não é necessário antes da 5ª ou 6ª safra, pois os ramos tendem a apresentar bom estado produtivo. É feito em combinação com o decote, que estimulará as brotações laterais. Quanto mais longo o desponte, maior será a área de brotação, formando um maior número de ramos. Sabe-se que esqueletamentos sucessivos aumentam o número de ramos laterais, acrescendo significativamente a produtividade. Dentre as vantagens desta prática temos a renovação da copa, e menor perda de produção em comparação com a recepa, contudo é um manejo mais complexo, e que promove o crescimento de mato nas entrelinhas.

 

Desbrota

Consiste na eliminação dos ramos ortotrópicos que vierem a nascer do tronco principal, de forma a evitar prejuízos produtivos para o cafeeiro. Este manejo é realizado manualmente ou quimicamente (calda com 1% de glifosato ou 0,7% de glufosinato de amônio), enquanto os ramos ainda são brotos, portanto, novos e herbáceos, para que não ocorra ferimentos no tronco principal. A desbrota deve ser realizada frequentemente para que se evite a concorrência.

Figura 3 - Imagem ilustrativa  de broto de “ramo ladrão”

Fonte: Rehagro

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Redigido por:

Recicla-g - João Vitor Reale

Da-vida - Maria Fernanda Sanches

Referências bibliográficas:

EMBRAPA. Sistema de Condução de Cafeeiros Conilon (Coffea canephora) em Rondônia. 62. ed. Porto Velho, RO: Embrapa, 20002. Disponível em: https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/705177/1/cpafro-8106-doc62.pdf. Acesso em: 15 set. 2022.

 

ESALQ. Uso da poda no cafeeiro: por que, quando e tipos utilizados. [S. l.], 2013. Disponível em: https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/va12-conducao-da-lavoura01.pdf. Acesso em: 15 set. 2022.

 

FILHO, João Alves de Toledo et al. Poda e Condução do Cafeeiro. 238. ed. Campinas: Cati, 2001. 35 p.

 

MATIELLO, José Braz et al. Cultura do Café no Brasil: Manual de Recomendações. 1. ed. [S. l.]: Fundação Procafé, 2015. 716 p. v. 1.

 

RAMIREZ, J.E. Poda y Manejo de Coffea Arabica L. Instituto del Café da Costa Rica - San José (Costa Rica), 1996. P. 59.

 

RENA, A.B.; MAESTRI, M. Fisiologia do cafeeiro. Informe Agropecuário, I Simpósio de Pesquisa dos Cafés do Brasil 43 11: 26-40, 1985.

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