Informativo GEA
Plantabilidade de grãos


1. INTRODUÇÃO
1.1 O que é plantabilidade e sua importância na produtividade
O termo plantabilidade está relacionado com a qualidade de distribuição vertical (na linha) de sementes no sulco de semeadura e horizontal (entre linhas) pela variação da distância entre as sementes na fileira de semeadura. A uniformidade de distribuição de plantas oferece condições semelhantes às plantas e minimiza a competição intraespecífica, o que tende a melhorar a produtividade. (MARTIN et a.l, 2022).
2. FATORES NO SOLO QUE AFETAM A PLANTABILIDADE
A umidade principalmente em Sistemas de Plantio Direto (SPD) pode interferir na plantabilidade pois causa o corte irregular da palhada, dificultando o contato solo-semente que é um pré-requisito para uma boa emergência da semente.
No sistema de plantio direto, quando o volume de palha presente na superfície do solo ultrapassa seis toneladas por hectare (t/ha), aumenta a probabilidade de ocorrer embuchamento (Araújo et al., 2001). Esse fenômeno corresponde ao acúmulo excessivo de resíduos vegetais na semeadora, o que compromete o fluxo de sementes e pode levar à paralisação da máquina (UPF, 2025).
Figura 1: Embuchamento de máquinas
Fonte: Revista Cultivar, 2020
3. PLANEJAMENTO DA POPULAÇÃO DE SEMENTES
3.1 Qualidade da Semente: Germinação, Pureza e Vigor
Sementes de qualidade apresentam alta germinação, o que garante melhor estabelecimento da lavoura, uniformidade e menor risco de falhas. Isso traz mais precisão no plantio e segurança na população recomendada de plantas (Cultivar, 2018).
Segundo normativa do Mapa, a germinação mínima deve ser de 80% e a pureza de 99% (sementes limpas e da variedade correta). O vigor, embora não exigido legalmente, avalia velocidade e uniformidade de emergência, sendo utilizado por empresas de confiança.
3.2 Cálculo da Quantidade de Sementes
A quantidade de sementes por hectare é definida pela população recomendada e pela taxa de germinação. Exemplo: para 300.000 plantas/ha com 90% de germinação, é necessário semear 333.333 sementes/ha (300.000 ÷ 0,90).
3.3 Ajustes na Regulagem da Plantadeira
Com o número de sementes definido, regula-se a plantadeira para distribuir corretamente por metro de linha, usando a fórmula: (sementes/ha × espaçamento entre linhas em metro) ÷ 10.000.
Exemplo: 333.333 sementes/ha e espaçamento de 0,5 m resultam em cerca de 17 sementes por metro de linha (Aegro, 2024).
Em relação ao milho, a população, ou densidade de semeadura, é definida como o número de plantas por unidade de área (ha) essa população de milho varia entre 40.000 e 80.000 plantas/ha.
A escolha da população ideal de plantas está diretamente relacionada à época de plantio. No verão (1a safra), recomenda-se uma maior população, já que as condições climáticas são mais favoráveis ao desenvolvimento da cultura. Por outro lado, na safrinha (2a época), a população deve ser reduzida para se adequar ao ambiente menos favorável, marcado principalmente pela menor disponibilidade de água. No entanto, deve ficar claro que o ajuste populacional não depende apenas da época de plantio, mas também de fatores como a textura do solo e o ambiente produtivo, que em conjunto determinam o potencial de estabelecimento e o desempenho da lavoura (Arbex, 2021).
Além desses fatores a escolha da população também vai estar baseada na textura do solo (se é argiloso ou arenoso). O cálculo consiste em converter a população ideal de plantas em quantidade de sementes, ajustando-se pela taxa de germinação para garantir o estande final desejado.
4 DISTRIBUIÇÃO DE SEMENTES NO SOLO
Impacto da qualidade do plantio no rendimento final dos grãos: O espaçamento entre linhas corresponde à distância entre fileiras de plantas. Na soja, esse espaçamento geralmente varia entre 0,45 m e 0,50 m, sendo que valores menores favorecem a interceptação de luz e também contribuem para a supressão de plantas daninhas – devido à formação de um dossel mais fechado.
No milho, o espaçamento convencional situa-se entre aproximadamente 0,80 m e 0,90 m. Contudo, pesquisas e recomendações técnicas apontam que espaçamentos menores, de 0,45 m a 0,50 m podem ser adotados para melhorar a eficiência no uso dos recursos e aumentar a uniformidade na lavoura.
Figura 2: Espaçamento na semeadora.
(Adaptado, Jumil, 2025).
4.1 Profundidade Ideal de Deposição
A profundidade correta de deposição das sementes é determinante para a velocidade e a uniformidade da emergência. Quando a semeadora está regulada adequadamente, todas as plantas emergem de forma homogênea, favorecendo um estande equilibrado. Por outro lado, profundidades inadequadas podem atrasar a germinação ou comprometer o estande final.
Além disso, a uniformidade de emergência é essencial para o bom desenvolvimento da soja e do milho. Quando há desuniformidade na distribuição longitudinal, as plantas competem por luz, água e nutrientes, o que resulta em hastes mais finas, menor ramificação e maior risco de acamamento. O manejo adequado da palhada contribui para evitar sementes superficiais, reduzindo falhas de estande (Arbex, 2021).
4.2 Uniformidade de Emergência
A profundidade ideal de semeadura da soja varia de acordo com o tipo de solo. Em solos argilosos, recomenda-se entre 3 e 5 cm; já em solos arenosos, entre 4 e 6 cm para a soja, e de 5 a 7 cm para o milho. Profundidades excessivas dificultam a emergência das plântulas, pois profundidades excessivas dificultam a emergência porque aumentam a resistência mecânica do solo e reduzem a disponibilidade de oxigênio, atrasando ou impedindo a germinação., especialmente em solos arenosos ou compactados, comprometendo a formação do estande.
5. AVALIAÇÕES E PERDAS
5.1 Avaliação da qualidade da semeadura
Segundo (De Mattos & da Silva, 2021), ao se analisar as perdas de produtividade em função da incorreta distribuição de sementes no solo, se observa a ocorrência de dois grandes problemas: a ocorrência de plantas duplas e falhas de semeadura.
São consideradas plantas duplas aquelas que, na linha de semeadura, a distância entre duas sementes é inferior a 50% da distância recomendada para o plantio. A ocorrência delas causa maior competição intraespecífica e menor produtividade.
Já as falhas de semeadura ocorrem quando a distância entre as plantas no campo é superior a 1,5 vezes a distância adequada esperada, caracterizando a ausência de uma planta e, consequentemente, uma menor produtividade.
Exemplo prático: Para um plantio com densidade de 12 sementes por metro, o espaçamento adequado entre plantas é de 8,3 cm. A ocorrência de plantas duplas acontece quando a distância entre duas sementes na linha for inferior a 4,15 cm. A ocorrência de falhas se dá quando a distância entre as sementes for superior.
Figura 3: Análises de plantabilidade.
Fonte: Mais Soja, 2022.
5.2 Índices de plantabilidade
A má distribuição compromete o estande e reduz a produtividade. Mesmo uma única falha por metro linear pode causar perdas significativas, reforçando a importância da precisão na semeadura.
Impacto da falha na semeadura: Milho: 3 plantas por m2 – 1 falha = 33% a menos na produção.
Soja:
- Espaçamento 0,5 m = 20.000 m linear;
- Peso médio da semente = 15 g;
- 1 falha por m2 × 20.000 m linear = 20.000 sementes a menos; 20.000 sementes × 15 g = 300 kg;
- 300 kg ÷ 60 kg (1 saco de soja) = 5 sacas a menos.
5.3 Cálculo da variação do estande de plantas
Uma forma de mensurar a qualidade da semeadura é o cálculo do Coeficiente de Variação (CV) - medida de dispersão baseada na variação em relação à média - na distribuição longitudinal das sementes. Para determiná-lo, basta abrir o sulco de plantio em 5-10 metros, expor as sementes e contá-las ou contar as plantas emergidas nos estádios iniciais da cultura (MADALOZ, 2020). Para a cultura da soja é considerado aceitável um coeficiente de variação menor que 50% e para a cultura do milho é considerado um coeficiente de variação aceitável menor que 30%. Coeficiente de Variação (CV) = Desvio Padrão ÷ Média.
A uniformidade de emergência é fundamental para o bom desenvolvimento da soja e do milho. Quando há desuniformidade na distribuição longitudinal, as plantas competem por luz, água e nutrientes, resultando em hastes mais finas, menor ramificação o que aumenta o risco de acamamento. A uniformidade da palhada também é essencial para evitar sementes superficiais (Arbex 2021). Com o uso de aplicativos de avaliação de plantabilidade, esse cálculo é feito de forma automática, o sistema já gera o coeficiente de variação em tempo real.
Figura 4: Distribuição de plantas.
Fonte: Grosystem (2021).
Figura 5: Falhas da distribuição
Fonte: Dirceu Gassen.
A velocidade de plantio é um importante fator que contribui para uma maior produção, visto que a mesma está diretamente relacionada com a uniformidade das sementes no solo, juntamente a boa qualidade das sementes, é possível ocorrer um aumento de até 8% na produtividade da soja.
Figura 6: Efeitos na plantabilidade nas diferentes velocidades.
Fonte: Dirceu Gassen.
Observar o funcionamento da roda compactadora, que deve garantir um bom contato solo-semente e monitorar a velocidade de deslocamento para semeadoras mecânicas, até 5 km/h, e pneumáticas, até 6,5 km/h (Arbex, 2019).
6. DIMINUIÇÃO DE PERDAS
6.1 Estratégias de Manejo para Melhorar a Plantabilidade
Essa precisão no plantio não só maximiza o rendimento por área, mas também melhora a uniformidade da cultura, facilitando o manejo e a colheita. Uma plantabilidade bem-sucedida começa com o planejamento e a correção precisa das variáveis, transformando o potencial teórico da semente em resultados reais no campo.
Figura 7: Cálculo de sementes.
Fonte: Adaptado de Arbex.
6.2 Regulagem e calibração da semeadura
Para compensar uma taxa de germinação de 90%, o plantio deve ser de 17 sementes por metro linear para se atingir a meta de 15 plantas por metro (Elevagro, 2022).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O plantio é o momento mais importante para definir o potencial de produtividade da lavoura. Um pequeno erro no espaçamento ou na profundidade pode parecer pouco, mas pode gerar perdas significativas na colheita. Por isso, cuidar da plantadeira, regulá-la corretamente e acompanhar o trabalho durante o plantio não é gasto, mas investimento: é a garantia de menor perda, mais eficiência e maior produtividade.
Autores: Jean Marcos Cipriano (100-travant) e Ana Laura Grieger (Foragéu).
REFERÊNCIAS
AGRO BAYER. Planejamento do plantio do milho: melhores práticas. São Paulo, 22 jul. 2022. Disponível em: https://www.agro.bayer.com.br/conteudos/planejamento-plantio-milho. Acesso em: 4 set. 2025.
ANÁLISE DE PUREZA EM SEMENTES. Anuário Pesquisa e Extensão Unoesc São Miguel do Oeste. [S. l.]: Unoesc, [20--].
APROSOJA. Informativo técnico. Lucas do Rio Verde: Aprosoja, 2024. 4 p. Disponível em: https://siteapi.aprosoja.com.br/storage/arquivos/4/180124094441.pdf. Acesso em: 4 set. 2025.
GEA-ESALQ. Informativo: plantabilidade. [S. l.], [20--]. Disponível em: https://www.gea-esalq.com/informativo-plantabilidade. Acesso em: 4 set. 2025.
HAUAGGE, T. S. Qualidade de plantio do milho safrinha - incremento de produtividade com tecnologias de custo zero. Pioneer®, [20--]. Disponível em: https://www.pioneer.com/br/blog/artigos/Qualidade-de-Plantio-do-Milho-Safrinha-Incr emento-de-Produtividade-com-Tecnologias-de-Custo-ZERO.html. Acesso em: 4 set. 2025.
STREFLING, Marcelo. Plantabilidade, o segredo para uma lavoura de sucesso. Brevant, [20--]. Disponível em: https://www.brevant.com.br/blog/artigos/plantabilidade-o-segredo-para-uma-lavoura- de-sucesso.html#:~:text=O%20vigor%20de%20sementes%20%C3%A9,o%20volum e%20de%20sementes%20desuniforme. Acesso em: 2 set. 2025.
VIGOR EM SEMENTES. UFSM, [20--]. Disponível em: https://www.ufsm.br/laboratorios/sementes/vigor-em-sementes-2#:~:text=A%20quali dade%20das%20sementes%20utilizadas,Testes%20bioqu%C3%ADmicos. Acesso em: 2 set. 2025.






















